Capítulo 69: Quantos malditos.

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Essas ideias me assombravam, viraram meu pesadelo diariamente. E a cada minuto que eu olhava para aquela corrente, sentia mais medo. Mas a coisa que eu mais tinha medo, era dela conseguir realizar o que me disse. Conseguir me esquecer.

Demi's POV

Segunda-feira, sete e dez da noite. 

No momento eu estava tendo um ataque, uma crise. Motivo? Jantar da empresa sexta-feira às oito e meia. Quando eu era mais nova sempre pedia para que minha mãe me levasse a esses jantares e ela sempre dizia que não, pois eu era muito nova. Agora, que eu estou mais velha e não me importo nenhum pouco em ir, ela quer me levar e dá a desculpa que eu já estou grande o suficiente para ir em compromissos desse tipo. E o pior de tudo nem era isso, era que, obviamente, eu teria que ver Nicholas. E eu não queria isso de jeito nenhum!

- Mas, mãe, eu não entendo porque tenho que ir nesse jantar. Eu não quero. – Tentava argumentar para não precisar ir. 

- Demetria, antes você era uma criança, agora não. Você está uma moça feita. Você irá comigo e com Eddie e nada de desculpas. – Falou séria. 

- Eu marquei de sair com minhas amigas. – Falei. Não era uma desculpa. Eu realmente havia marcado de sair com Jennifer e Tiffany. 

- Que amigas? – Perguntou, mudando de assunto. 

- Tiffany e Jennifer. Elas estudam comigo e com Selena, e ultimamente eu tenho saído bastante com elas. – Respondi. 

- E Selena? – Perguntou. 

- Ela está namorando. Ultimamente tem saído bastante com o namorado dela. – Respondi. 

- Certo. Vamos fazer um trato. – Falou e sorriu de um jeito esperto, mas sem mostrar os dentes. 

- Qual? – Perguntei, encarando-a curiosa. 

- Você vai a essa festa, se for ao jantar comigo. Você poderá sair do jantar depois que for anunciado a coleção do mês que vem. Não vai demorar muito e sei que essas festas que você vai começam tarde e o jantar é mais cedo. – Respondeu. Fiquei meia hora com a boca aberta, mas nada foi dito. A expressão de mamãe era de quem dizia "peguei você" e eu queria me matar por isso. 

- Não tem outro jeito? – Perguntei, fazendo cara de cachorro sem dono. 

- Não. Ou você vai ao jantar e vai á festa, ou você fica em casa. – Respondeu séria. 

- Desde quando você ficou tão autoritária? Meu Deus, minha mãe virou o Hitler! – Falei em um falso drama. Ela riu. 

- Pare de ser tão exagerada. Tenho certeza que você irá adorar! Sentaremos na mesma que Nicholas e sua noiva, Olívia. Ele é um pouco mais divertido quando não está tão sóbrio. – Mamãe falou animada. E para piorar minha situação ainda tinha isso? Sentar na mesma mesa que Nicholas e a noiva dele! A vida não podia ser mais injusta. Aliás, a vida estava me odiando. E muito! 

Depois que mamãe saiu de meu quarto, senti vontade de chorar ou pior, me jogar contra a parede para ver se o impacto me matava. Eu não acredito que terei que encarar Nicholas e a senhorita Olívia Palito. Era muito azar para uma noite só. Jantar com Nicholas, ok. Eu aguentaria depois de alguns copos de Martini ou até mesmo Vodka pura, mas ele e Olívia eram demais para mim. Eu não aguentaria vê-lo feliz com aquele projeto de ser humano. Aí, como eu odeio aquela mulher! 

Eu queria muito ligar para Selena e contar tudo o que estava acontecendo, como eu estava me sentindo, mas não podia. Depois daquela nossa pequena discussão aqui no meu quarto, nós não estávamos nos falando direito. Uma não falava com a outra e quando nós falávamos o clima fica estranho, tenso. Sei lá. Não sei explicar. Queria minha melhor amiga de volta, mas também queria que ela entendesse meu lado. 

Poxa, eu tive que namorar (namoro não seria a palavra certa, mas é a única que define) meses escondida, tive mentir pra minha mãe por meses e depois levo um belo chute na bunda e ainda sou obrigada a ouvir que não sou mulher suficiente. Como ela quer que eu me sinta? Sei que as coisas que estou fazendo não são boas e muito menos dignas de orgulho, mas no momento, elas são as únicas coisas que me aliviam e que me fazem esquecer a dor e a magoa que sinto. 

Tiffany e Jennifer estavam fora de cogitação. Eu as adoro, mas digamos que elas sejam os tipos de amigas que só servem pra sair, pra te fazer companhia. Tudo pra elas se resolve com festas e bebidas. Em algumas ocasiões isso até resolve, mas em outras é preciso uma boa conversa e a única pessoa que poderia me dizer as coisas certas, que eu sei que gostaria de ouvir seria Selena. 

Quarta-feira, nove e quinze da manhã. 

Havia matado as duas aulas de geometria. Ninguém merece ter que ouvir a professora falar sobre seus seis cachorros e seus quatro gatos, cujo três eram fêmeas e estavam grávidas. A professora era um amor, quando estava explicando a matéria, porque quando o assunto era a vida pessoal dela, tudo era entediante, monótono. Fala sério, quem quer ouvir uma pessoa falar que virou professora de geometria, porque não sabia o que fazer da vida, e que estava quase com cinquenta anos e ainda morava com os pais?! Sem falar que quando ela resolve abrir a boca pra falar dos seus animais de estimação ninguém mais para ela. 

Estava sentada no gramado da escola, debaixo da minha (e de Selena também) árvore favorita enquanto lia um dos meus livros favoritos, O Lado Bom da Vida. Esse é um dos meus livros favoritos, porque o personagem principal tenta ver o lado bom de tudo, apesar de todos ao seu redor sempre pôr defeito em algo que ele pense ou faça. Penso que, talvez, eu devesse ser assim. Por exemplo, eu poderia ver o lado bom em Nicholas ter terminado comigo, que seria: eu não precisava mais mentir para minha mãe, eu não precisava mais me esconder, eu não seria mais enganada por ele e, talvez, eu arranjasse alguém (da minha idade, de preferência) que gostasse de mim de verdade. É, eu realmente podia ver o lado bom nisso. Porém, eu sou realista demais pra me enganar com meus desejos e com o que eu quero.

- Matando aula, é? – Escutei uma voz muito bem conhecida soar divertida. Retirei meus olhos do livro e encontrei Selena em pé, a minha frente. Ela continha um sorriso tímido 

- Você sabe o quanto eu odeio o papo entediante sobre a professora Martha e seus animais. – Respondi divertida. Ela riu. 

- Pois é. Eu também. – Comentou risonha. 

- O que você inventou pra ela desta vez? – Perguntei, encarando-a. 

- Disse que meu papagaio morreu. – Ela respondeu risonha. Gargalhei alto. 

- Ela sempre cai quando alguém diz que perdeu o animal de estimação. O amor por bichos que essa mulher sente é tão inexplicável, que chega a ser engraçado. – Comentei rindo. 

- Pensando em quê? – Perguntou. 

- Que você deveria sentar ao meu lado para nós nos entendermos, porque não aguento mais ficar brigada contigo e estou com saudades da minha melhor amiga. – Respondi. Um sorriso gigante se abriu em seu rosto e ela veio pra cima de mim, me abraçando. 

- Aí, Demi, amiga, me desculpa! – Falou manhosa. – Eu não queria falar aquelas pra você, achei que estivesse te ajudando, estava preocupada contigo. Me perdoa! – Completou do mesmo jeito, apertando ainda mais nosso abraço. 

- Tudo bem, amiga. – Falei calma, mas sorridente. Depois de um longo tempo, Selena me largou e parou de pedir desculpas, enquanto eu apenas respondia calmamente "tudo bem". Ela sentou-se ao meu lado, mas me encarando. 

- Tudo bem nada. Eu falei um monte de besteiras sem nem ao menos saber o porquê de você estar agindo daquela forma tão vagaba. – Falou divertida, mas sabia que ela estava falando sério. 

- "Vagaba", nossa, obrigada. – Falei e ri. 

- Sou sincera, perdão. – Levantou as mãos em sinal de rendição, enquanto eu apenas ria. 

- Certo. Mas está tudo bem, Selena. – Ela me olhou com aquela cara de quem diz "não, não está nada bem".  – Você não sabia o porquê de eu estar agindo de uma forma tão vagaba. – Rimos. – Eu não te contava nada, estava me fechando e tu não tem culpa disso. E eu ainda estou agindo assim, mas agora você sabe o porquê. – Falei séria, encarando-a. 

- Queria que tivesse outra forma de você enfrentar tudo isso. Me parece tão errado. – Falou. Suspirei. Eu sabia que ela estava certa. 

- É errado. Mas minha cabeça não encontra outra forma. – Falei. – E parece que cada vez está mais difícil de esquecê-lo. – Lembrei do jantar que teria sexta-feira. 

- O que tu quer dizer com isso? – Perguntou, arregalando os olhos. 

- Mamãe me obrigou a ir num jantar da empresa sexta-feira. – Respondi, totalmente desanimada. Selena ficou surpresa com minha resposta. Sua boca abriu várias vezes, mas nada foi dito. Acho que ela não tinha muito o que dizer. 

- E agora? – Perguntou, depois de um tempo. 

- Agora eu vou á esse maldito jantar, ué né. – Respondi. – O pior de tudo nem é isso. – Comentei, com um sorriso amargo. 

- O que é pior? – Perguntou. 

- Vou me sentar na mesma mesa que Nicholas e a senhorita Olívia Palito. – Respondi. Selena gargalhou alto ao escutar "Olívia Palito". 

- Adoro quando você a chama assim! – Falou risonha. Ri da sua cara. – Mas voltando ao assunto principal, como você está se sentindo com isso? – Perguntou. 

- Pior impossível. – Respondi, colocando meu rosto entre minhas mãos. – Além de ter que ir á um jantar na maldita empresa do maldito Nicholas, ainda terei que sentar na maldita mesa com o maldito Nicholas e sua maldita noiva perfeita. – Comentei tristonha. Suspirei de um jeito triste. 

- Quantos malditos. – Comentou Selena divertida. Ri. 

- Só tu pra me fazer rir nessa maldita hora. – Falei, voltando a encara-la. 

- Demi, tudo vai dar certo, ok? Você vai a esse jantar linda e maravilhosa. Vai mostrar a esse maldito Nicholas – Ri – que você está por cima da situação. Vai de cabeça erguida, com um sorriso enorme e confiante no rosto, que só você tem. Não vai deixa-lo ter ver mal. – Falou convicta. 

- Amiga, eu amo você! Obrigada! – Falei manhosa, abraçando-a forte. 

- Você realmente está mal. Demonstração de carinho não é com você. – Falou divertida, acariciando meus cabelos. Gargalhei alto e ela gargalhou junto comigo. 

- Você é uma idiota! – Falei, desfazendo o abraçando e lhe dando um tapa na braço. 

- Viu?! Isso é muito mais sua cara! – Falou entre risos. 

Depois da aula, liguei para mamãe e disse que almoçaria na casa de Selena, pois de tarde nós iríamos fazer compras. Selena me ajudaria a escolher O vestido perfeito para usar sexta-feira. 

Precisava fazer exatamente como Selena disse: mostrar confiança. Não iria deixar Nicholas saber que sofri, que estava sofrendo. Isso eu não admitiria. Me mostraria confiante, como a Demetria de antes e não como essa babaca apaixonada. 

Estava agradecendo por ter me entendido com Selena, pois só ela conseguiria me pôr pra cima da maneira Selena de ser. E era exatamente disso que eu precisava: uma tarde inteira com minha melhor amiga. 

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Capítulo 69 postada a meia-noite porque sou louca (HA!). Esse capítulo não tem nada demais, saiu bem zzz, mas espero que vocês gostem. E o que vocês acham que vai acontecer no jantar hein?????? Comentem!!!! Beijocas